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Silêncio
Artigo de luxo, disputa- do por muitos em grandes metrópoles, e até mesmo nos mais descampados refú- gios, onde o pingar de uma goteira pode se tornar às vezes algo inaudível.
Inaudível porque os ouvidos cansados e dila- cerados buscam abrigo no quase impossível, a paz pelo silêncio.
Ao calarem os sons de motos, carros, máquinas, celulares e televisores, per- cebemos que nossos ouvi- dos foram poluídos de tal forma, que até o barulho de um beija-flor batendo suas asas pode incomodar.
Na ignorância e insen- sibilidade do pensamento egoísta, se almeja o benefí- cio da surdez de nascença, por imaginar quão felizes e cheios de paz devem ser os moucos, pois conseguem se conectar consigo mesmo, sem nenhuma interferência do mundo.
No mesmo instante uma culpa enorme invade a mente, por lembrar de tantos sons que tornaram a vida mais bonita, como o barulho da chuva numa manhã calma de domin-
go, o primeiro choro de seu filho ao nascer, a voz doce de sua mãe dando boa noite na cama quando criança… Nesse belo passeio por lembranças, a gratidão por poder ter ouvido tanta coisa maravilhosa é muito grande, e se descobre que a verdadeira paz, não vem do silêncio, e sim do estado de espírito.
Tem se tornado cada vez mais difícil encontrar o equilíbrio que nos conecta
, o mundo contemporâneo nos obriga a dedicar cada vez menos tempo ao que nos dá prazer, e de tanto praticar esse exercício, mui- tos nem sabem mais do que gostam, apenas coexistem no universo… Quando se dão conta pode ser tarde demais, pois os sons de apa-
relhos hospitalares podem ser os últimos barulhos a serem ouvidos.
Temos que aprender a real beleza de cada som, de cada gosto, de cada cor, de cada tom.
A tão sonhada paz está dentro de nós, escondida em algum lugar, basta ter paciência, determinação e sabedoria para alcançá-
-la, quando isso acontecer jamais nenhum barulho incomodará, pois os sábios transformam ruídos em belas melodias!