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Precioso Ócio
O mundo nos exige pressa. Pressa para acordar, comer, pensar, decidir e até pressa para crescer.
A infância tem se tornado cada vez mais curta, onde escolas precisam ensinar crianças que brincar é perda de tempo, pois o importante é competir pela almejada vaga no vestibular de medicina.
Nesse ritmo frenético seguimos sem perceber o nascer e o pôr do sol, sem apreciar as flores, sem saborear corretamente os sabores e aromas da vida.
Depois de um exaustivo ano de trabalho e estudos, as almejadas férias chegam, e tratamos logo de planejar mil e uma atividades divertidas para fazer, e ao final de todo divertimento retornamos para nossas rotinas mais cansados do que nunca.
Aprendemos desde cedo a preencher nosso tempo, o tempo todo, e nos orgulhamos por conseguirmos fazer inúmeras tarefas ao mesmo tempo. Só nos esquecemos de nos darmos o precioso tempo de não fazer nada.
O livro “A Alma Perdida” da autora polonesa Olga Tokarczuk, conta uma intrigante estória, que muito se compara a história de todos nós, onde devido a correria excessiva do dia a dia, a alma não consegue acompanhar o corpo, e o personagem um belo dia, esquece até seu próprio nome. Quando angustiado procura um médico, lhe é recomendado “parar”, sentar e não fazer nada, nem pensar em nada, até que sua alma possa abraçá-lo novamente.
Será que nossa alma também não se encontra perdida? Nunca se ouviu falar tanto de depressão, suicídio e infinitos males provocados por dores da alma. Dores que são tratadas com remédios e mais remédios farmacológicos que na maioria das vezes não resolvem o problema.
Está mais que na hora de colocarmos em nossa agenda, um tempo para o precioso ócio. Essa não será uma tarefa fácil, pois ninguém nos ensina isso na escola, nem no trabalho, nem na vida; mas precisamos nos esforçar para aprender, pois nunca é tarde para nos encontrarmos com nossa alma perdida.
Erika Borges, cronista e
escritora, autora do livro
Crônicas e Reflexões da Vida
Mediadora de Biblioterapia