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sábado, 20 de abril de 2024

Artigos

O pódio da cidadania

Ainda está muito viva a imagem dos torcedores japoneses na Copa do Mundo do Brasil, em 2014, e na da Rússia, em 2018, recolhendo o lixo das arquibancadas das arenas nas quais jogava sua seleção. Este ano, quando será realizada a Olimpíada de Tóquio, os nipônicos, mais uma vez, dão um exemplo de cidadania aplicada à responsabilidade ambiental. Os jogos terão profundo apelo de sustentabilidade, com a utilização de carros elétricos para o transporte de atletas, camas com estrutura de papelão reciclável na vila olímpica, tochas de alumínio e medalhas feitas com material retirado de equipamentos eletrônicos velhos.
São notáveis a capacidade de planejamento dos organizadores e o engajamento da população no processo: entre 2017 e 2019, recolheram-se 79 mil toneladas de celulares, notebooks, câmeras digitais, videogames e outros aparelhos usados, dos quais foram extraídos o ouro, a prata e o bronze para a produção das medalhas. É o espírito cívico a favor do meio ambiente e da sustentabilidade, numa ação individual com reflexos positivos para toda a sociedade.
O Brasil, a despeito de alguns avanços, ainda precisa desenvolver-se bastante no tocante à mobilização e engajamento das pessoas e empresas numa corrente forte e irreversível de responsabilidade ambiental. Aqui, ainda se joga muito entulho de modo irregular nas ruas, praças, terrenos baldios e rios. Também não são todas as pessoas, firmas e famílias que executam os procedimentos corretos para o descarte do lixo, que deve ser acondicionado em sacos de plástico adequados para esta finalidade, bem fechados, a serem colocados nas calçadas nos horários corretos, conforme o cronograma das companhias de coleta e destinação dos resíduos sólidos.
Entulhos, latas, bitucas de cigarro, garrafas e papel atirados à revelia nas ruas causam danos ambientais e entopem bocas de lobo e bueiros, contribuindo para a ocorrência de enchentes. Sacos de lixo colocados nas calçadas com muita antecedência aumentam o risco de serem arrastados pelas águas das chuvas, também sendo mais um fator de risco para enchentes.
A responsabilidade ambiental implica, também, a mudança de hábitos de consumo. Não são necessárias, por exemplo, quatro folhas de papel para embalar uma roupa ou qualquer produto nas lojas. Basta uma sacola. Muita gente reclama da questão do lixo, mas continua jogando coisas pelas janelas dos carros e das casas. Empresas fazem grandes campanhas e valorizam o discurso ecologicamente correto, mas usam quantidade exagerada de copinhos plásticos em máquinas de café e água. Apenas oito Estados proibiram o uso de canudos de plástico, que deveria ser medida nacional. E em todo o País, restaurantes continuam embalando guardanapos, palitos e outros itens em saquinhos de plástico.
É preciso enfatizar que a melhor maneira de se manter uma cidade limpa é não sujá-la. Por mais que se realizem com eficácia e qualidade os serviços de limpeza urbana, como a varrição, coleta e destinação dos resíduos sólidos, serão sempre análogos à tarefa de enxugar gelo, se a população não desenvolver a consciência cívica de fazer sua parte para que todos vivam em ambientes urbanos mais saudáveis.
Já passou da hora de subirmos ao pódio da cidadania na olimpíada da sustentabilidade!

Luiz Gonzaga Alves Pereira é o presidente da Associação Brasileira de Empresas de Tratamento de Resíduos e Efluentes (Abetre), entidade signatária do Pacto Setorial de Integridade no setor de Limpeza Urbana, Resíduos e Efluentes.

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