Artigos
Metamorfose
Após longos nove meses encapsulados no ventre, nossos filhotes chegam ao mundo. Num misto de alegria e medo aprendemos dia a dia a cuidar desses serezinhos tão indefesos. Em pouco tempo nos tornarmos mestres em decifrar choros, cores de cocô, melhores posições para um sono tranquilo e a vida vai seguindo naturalmente seu curso.
Papinhas e frutas começam a fazer parte da alimentação dos pequenos, que em um piscar de olhos estão andando e falando. Nessa fase tombos são frequentes, e nos tornamos também “PHDs” nesse assunto que normalmente se resolve com um beijo, um acalento, no máximo gelo e pomadas. Alguns vão além e necessitam de pontos e gesso, nos exigindo um pouco mais de habilidade para enfrentar, mas rapidamente tudo se ajeita e vira diversão.
A escola se torna o lugar preferido das crianças; onde fazem amigos, brincam, se divertem e sem perceber logo estão escrevendo, lendo e com algumas janelinhas na boca. Quando voltam pra casa estão cheias de novidades e não param de falar um só minuto; as refeições se tornam momentos prazerosos, pois a maioria já não se faz mais resistente a comer legumes e verduras, e no fim da noite quando vão dormir nos sentimos felizes pois conseguimos cumprir com excelência nosso papel.
Apesar de adorarem a escola, as férias são sempre esperadas com ansiedade, pois os momentos com a família sempre são muito divertidos, seja na praia, na pracinha, ou na casa dos avós. Como é divertido pra eles brincarem com os primos o dia todo e no fim da tarde se deliciarem com bolos e doces…A vida não poderia ser melhor!
Até que um belo dia tudo se transforma, e aquela tranquilidade de saber tudo a respeito do seu filho, do seu mundo, dos seus gostos, de suas alegrias, de suas dores, se transforma em um angustiante ponto de interrogação. Você não entende, se culpa, sofre, mas não há nada a fazer, pois chegou a fase do casulo, a tão temida adolescência!
Nesse casulo seguem por um bom tempo, e já não há espaço para quase mais nada que outrora preenchia de alegria aquele antigo mundo tão simples. Nos vemos novamente transformados em calouros, que mais erram do que acertam ao tentar adentrar nesse misterioso alvéolo.
As noites tranquilas e aquela sensação de dever cumprido se torna um doloroso sentimento de incapacidade, sentimos saudades do passado e tememos o presente e o futuro. O que fiz de errado, é o primeiro e o último pensamento do dia, e a vida vai seguindo seu curso ´já não tão leve e feliz como antes.
Apesar da dificuldade de se penetrar no casulo, jamais desistimos de tentar e aos poucos vamos percebendo mais leveza e colorido nessa missão. Os dias vão se tornando menos difíceis e a esperança volta a acalentar a alma até o casulo totalmente se romper, e dali desabrochar uma linda borboleta, que às vezes irá voar pra longe, mas sempre voltará para o aconchego do jardim onde nascera.
Erika Borges, cronista e escritora,
autora do livro Crônicas e Reflexões
da Vida Membro do Coletivo RELIARTES
(Rede Literária Independente e Artes)