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D. Pedro II e as ciências
Caros leitores,
Ao pegar carona na novela ‘Nos Tempos do Imperador”, lembramos a vida desse grande estadista brasileiro, D. Pedro II do Brasil. Seu reinado durou 49 anos. Foi declarado ‘Sua Majestade Imperial’, após a abdicação de D. Pedro I, a 7 de abril de 1831, quando tinha apenas 5 anos de idade. Era madrugada, e o pequeno Imperador, nem pôde se despedir do pai, pois dormia.
Nasceu em 1825, sendo batizado com o nome de Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Habsburgo-Lorena e Bragança. Aprendera a andar, a falar, a brincar e, as primeiras letras com sua aia, que ele chamava de Dadama, no Paço de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, sede do Império.
A sua maioridade foi declarada em 1841, aos 14 anos. Entre 1831 e 1841, se preparou para reinar, com regras rígidas e cercado de cuidados especiais, de médicos, professores e tutores. Não era um gênio, mas inteligente. Era apaixonado pela leitura. Se interessava por antropologia, geografia, geologia, medicina, direito, religião, filosofia, pintura, escultura, teatro, música, química, poesia e tecnologia. Com o passar do tempo dominava o latim, francês, alemão, inglês, italiano, espanhol, grego, árabe, hebraico, sânscrito, chinês, provençal e tupi-guarani. O historiador Roderick Barman o descreveu: “Ele mantinha suas emoções […] nunca era rude […]. Era […] discreto com as palavras e cauteloso na forma de agir”. Também foi moderado em sua crença, o catolicismo, ao aceitar ideias novas, tais como a ‘Teoria da Evolução’, de Charles Darwin, sobre a qual ele afirmara que “as leis que Darwin descobrira engrandeciam o Criador”.
Afetuoso e sensível, sofreu muito com as mortes prematuras de seus dois filhos. Chorou ao se encontrar, após 40 anos, em Portugal, com sua madrasta Amélia de Leuchtenberg, ao vê-la idosa e doente. Lutou pelo bem-estar de suas filhas, Isabel e Leopoldina, bem como da imperatriz Tereza Cristina, com quem conviveu por 46 anos, apesar de várias aventuras amoras.
Tornou-se um estadista admirador do Brasil e do povo, sendo respeitado por este, embora enfrentasse uma resistente oposição política. Estimulou o conhecimento, a cultura e as ciências. Ganhou o respeito e admiração de estudiosos, cientistas, filósofos, músicos e outros intelectuais, como Graham Bell, Charles Darwin, Victor Hugo, Friedrich Nietzsche, Richard Wagner, Louis Pasteur, Frédéric Mistral, Thomas Edison, entre outros. Foi o primeiro fotógrafo brasileiro, ao adquirir uma câmera de daguerreotipo, quando adolescente, em 1840. Mais tarde, construiu um laboratório fotográfico, outro de química e física e um observatório astronômico no Paço Imperial.
Quando viajava ao exterior usava o nome de “Pedro de Alcântara”, como uma pessoa comum. Dentre muitas viagens pelo mundo, aos Estados Unidos, em 1876, foi um sucesso, causando ótima impressão nos americanos, por sua simplicidade e gentileza. Visitou a ‘Exposição Mundial da Filadélfia’. Lá encontrou o escocês Graham Bell, que havia inventado o protótipo do telefone. Porém, o experimento era ignorado pelos observadores, até a chegada de nosso Imperador. Em salas diferentes, ao ouvir a voz de Graham Bell no aparelho, D. Pedro profere a célebre frase: “Meu Deus, isso fala!” Admirado, fez questão de que o Brasil fosse um dos primeiros países a possuir aquela curiosa engenhoca. Os primeiros aparelhos foram instalados no Rio de Janeiro e Petrópolis, em 1877.
Em 15 de novembro de 1889, velho e cansado, nada fez para manter-se no poder. Após a queda da monarquia, partiu para o exílio, em Portugal. Em dezembro perdeu a esposa. Viúvo, mudou-se para o modesto Hotel Bedfort, em París, onde passava os dias lendo e estudando. Quando saia, procurava as associações científicas ou literárias e a Biblioteca Nacional Mazarino, que se tornou seu refúgio.
Diabético, primeiro uma ferida no pé, depois sobreveio uma pneumonia. A 6 de dezembro de 1891, aos 66 anos, morria, em París, o nosso segundo e último Imperador. Seu corpo foi transladado para o Brasil, juntamente com sua esposa, em 1939, e enterrados na Catedral de S. Pedro de Alcântara, em Petrópolis, RJ.
José Antonio Merenda
Historiador e membro da ABC – Academia Barretense de Cultura – Cadeira nº 29