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sábado, 02 de novembro de 2013

Artigos

1889

O afamado escritor Laurentino Gomes, autor de “1808” e “1822”, volta agora com novo best-seller, desta vez tratando da proclamação da República, ocorrida em “1889”. O tema já mereceu estudos de muitos especialistas, e o interessante sempre a ressaltar é a velha constatação de Aristides Lobo em relação ao golpe dado para derrubar a monarquia no Brasil e exilar a família real, dizendo que o povo brasileiro assistiu tudo bestializado. Isso quer dizer que o povo ficou alheio a tudo o que aconteceu, inclusive a  humilhação do prazo de apenas 24 horas para a família real deixar o País, que foi justamente por medo de uma reação popular em favor da permanência da Monarquia no Brasil. 
Hoje, mesmo em meio a um tão grande número de autores esquerdistas que grassam no mercado editorial brasileiro, é interessante notar que quase todos reconhecem a figura de Dom Pedro II como certamente uma das mais notáveis em nossa História, cuja referência ética na gestão pública é bem conhecida e destacada por quem estuda o período em que governou o Brasil. E também o modo digno como viveu seu exílio, falecendo dois anos após a proclamação da República, num hotel em Paris. Tanto Dom Pedro II quanto a Princesa Isabel se recusaram a recorrer às armas para retornar ao poder. Foram governantes de admirável espírito público, realmente voltados para o bem comum. 
Leandro Narloch, em seu “Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil” ressalta que “em 16 de novembro de 1889, horas depois de ser destituído do trono pelos republicanos, dom Pedro II foi embora do Brasil levando consigo um travesseiro cheio de terra brasileira. A liberdade política que o Império possibilitou foi embora com ele”. Hoje sabemos que 1889 marcou uma ruptura de processo histórico. O Brasil tinha um projeto que foi interrompido bruscamente, e daí por diante tivemos os sobressaltos da República, com outros golpes de Estado, o longo período de ditadura militar e a atual fase da República. Será que o comportamento e a altivez ética de Dom Pedro e da Princesa não serviriam de exemplo para estes nossos “tempos bicudos”?
 
Valmor Bolan é Doutor em Sociologia e Presidente da Conap/MEC (Comissão Nacional de Acompanhamento e Controle Social do Prouni).

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