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domingo, 05 de fevereiro de 2017

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QUEM É BOM?

Fulano de tal é bom! Cicrano é tão bom! Beltrano? Esse cara é bom demais! Ao comer algo não apetitoso ao nosso paladar dizemos que ficou bom, sobretudo se o cozinheiro for da família.  Ao não conseguir determinar ou qualificar algo ou alguém de forma concreta, após um breve silêncio expressamos ‘é bom’. Assim nos referimos às coisas, pessoas, sentimentos; avaliamos decisões importantes da vida pessoal, familiar, profissional; categorizamos decisões políticas, qualificamos valores religiosos.  
O uso do adjetivo ‘bom’ caiu na rotina, foi banalizado. De forma natural e até conseqüente, eliminamos do consciente pessoal e coletivo o real sentido e significado desse conceito. Quando alguém recebe ou oferece um ‘bônus’ (do latim “bom”), significa que recebeu ou ofereceu um prêmio, um benefício, algo além do comum, do ordinário, do que se faz todos os dias. Dentre outros elementos, o dicionário realça que bom é aquilo ou aquele que possui proporções maiores que as habituais. 
Quando nos referimos a alguém como sendo ‘bom’, deveríamos considerar que esta ou aquela pessoa faz além do ordinário, além do necessário, além do exigido, além do comum, além do que todo mundo faz. Este esforço, empenho, dedicação, doação, coragem, entrega, determinação, algo mais, é que de fato a caracteriza como sendo boa. Muitos aos quais nos referimos como bons, na verdade, são meros cumpridores de deveres e obrigações. Pagam seus impostos em dia, varrem a calçada de sua casa, fazem sua ‘boa’ ação de cada dia.  O simples fato de não ser mau, não significa, necessariamente, que o fulano, o sicrano e o beltrano seja bom. Não ser mal não é ser bom. No meio do caminho vagueiam uma série de posturas e atitudes que determinam o pensar, o sentir e o agir. De imediato nos deparamos com a indiferença, o ‘tanto faz como tanto fez’; o ‘deixa a vida me levar’.
O que simplesmente cumpre seus deveres não é bom, pois só faz o que deve, não oferece ‘bônus’. Cumpre deveres e obrigações por necessidade de sobrevivência, aprovação dos outros, conveniência. O indiferente não é bom, pois deixa de fazer o que pode, recusa-se a fazer a diferença para melhor. O que nada faz não é bom. Pode não ser mal, mas bom não é. Para defini-lo, devemos encontrar um termo mais condizente com sua atitude.
Quando qualifico alguém como ‘bom’, quando realço sua bondade, devo que ter clareza sobre o que esta pessoa faz além do básico, além do trivial, além do dever e da obrigação. Mais que o simplesmente não tirar, não fazer mal, o que ela acrescenta, qual o bem que ela faz? Que bônus ela oferece? 
É encantador viver e conviver com pessoas que ultrapassam os limites do óbvio e do necessário em direção do bem, mais ainda quando o destinatário desse exercício é o outro, quando este movimento é alavancado pela gratuidade, pela gratidão, pelo amor-doação, pela solidariedade, pela fraternidade. Esses sim, merecidamente, se bem que pouco se importam com isso, devemos qualificar como ‘bons’.
Deus é Bom simplesmente porque não faz o mal ou porque faz o bem além daquilo que esperamos, necessitamos e merecemos, surpreendendo-nos constantemente e revelando seu amor incondicional? Criados a Sua imagem e semelhança, ser bom é essencial à nossa felicidade. Parafraseando Martin Luther King: “o que me preocupa não é o grito dos maus é o silêncio dos que se dizem bons”. Sejamos bons! De verdade!
 
Ivanaldo Mendonça
Padre, Pós-graduado 
em Psicologia
 

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