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SABER PROTESTAR
Os últimos dias foram marcados por grande agitação. Os caminhoneiros brasileiros, ou boa parte deles, decidiram protestar, dentre outras coisas relativas à sua categoria, contra o aumento abusivo do combustível. Em pouco tempo o país parou; milhares de pessoas uniram-se aos ‘homens da boleia’ apoiando a iniciativa e, de carona, manifestando-se contra tantas outras coisas. Governantes e alguns veículos de comunicação trataram logo de criminalizar as reivindicações até que, sem alternativas, teoricamente, renderam-se à negociação.
Ensina o dicionário: protesto é uma forma de manifestação democrática, pública ou reservada, que demonstra o descontentamento em relação a alguma coisa. Eles podem acontecer por razões pessoais ou coletivas. Protestar é um ato legítimo, contemplado, inclusive, pela natureza do regime democrático. Em relação ao exercício da cidadania, protestar não é apenas um direito, mas um dever, à medida que objetiva reverter situações que agridem a dignidade humana em seus direitos básicos e, consequentemente, a promoção do bem comum.
O processo de desenvolvimento humano e social pautado por referências sólidas encara o protesto como algo natural e necessário. Pessoas maduras e lideranças autênticas desenvolvem a capacidade de reagir assertivamente aos protestos; embora desconfortantes, eles favorecem a causa ou empreendimento, sinalizando que algo deve ser revisto, repensado, melhorado, transformado. Protesto sadio deve estar alicerçado em causas legítimas, caso contrário converte-se em agitação e inconseqüência, produzindo danos a todos, inclusive, aos protestantes.
Tantos protestos legítimos são sufocados pela agitação de quem sequer sabe o que esta acontecendo, tampouco, o que esta sendo reivindicado. Outras vezes os agitadores são patrocinados por aqueles aos quais o protesto atinge diretamente e, por isso, precisa ser boicotado. Não obstante as muitas variáveis, um protesto só é legítimo quando necessário, justo, ético e ordeiro. Alguém que tenha da vida uma concepção infantil pode fazer dela um eterno protesto contra tudo e contra todos, simplesmente, por não ser agradado em suas manhas e manias.
Nem toda manifestação é protesto. A recente agitação nacional revela sede de justiça, sendo, por isso, louvável, No entanto, transita na contramão, a atitude imatura de simples manifestantes, o que explica a rápida dissolução e a imediata sensação de que nada aconteceu. Tenha sido este um ensaio e que, no fundo, estejamos, como em laboratório, aprendendo; mais que manifestar, seja nossa meta, protestar e, mais ainda, saber protestar. Dentre outras coisas memorizemos alguns princípios do protesto legítimo: discordar sem agredir, reivindicar sem destruir e transformar sem alienar.
Ivanaldo Mendonça
Padre, Pós-graduado em
Psicologia
ivanpsicol@hotmail.com